Estudo conduzido no Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) avaliou o uso de lodo resultante de tratamento de água como insumo para argamassas empregadas na construção civil. Os resultados foram publicados no Journal of the Brazilian Chemical Society.
Como explicam os autores, esse resíduo é composto por matéria orgânica e inorgânica, nos estados sólido e líquido e com composição muito variável. Se descartado de forma irregular, pode causar danos ao meio ambiente, entre eles a redução no nível de oxigênio e o aumento na concentração de alumínio em cursos d’água.
Além de evitar a poluição ambiental, a aplicação do lodo na construção civil pode ser benéfica por outro motivo: reduzir a extração de matérias-primas como areia e cascalho.
“O processo de extração causa diminuição na disponibilidade desses materiais no mercado e um aumento no preço. Por exemplo, nos Estados Unidos, o preço da areia e do cascalho aumentou cerca de 30% entre 2010 e 2020”, informam os autores. “Além disso, a areia natural às vezes tem de ser transportada da região de extração para a de utilização, o que significa que o preço se torna ainda mais elevado à medida que a distância aumenta”, complementam.
No trabalho, os pesquisadores avaliaram as propriedades físicas e mecânicas do compósito cimentício e a resistência à corrosão de argamassas que utilizam o resíduo de lodo em substituição parcial da tradicional areia. O desempenho foi comparado com o do material convencional.
Por medições eletroquímicas, foi observado que a resistência da argamassa não foi alterada pelo uso do resíduo. Observou-se também que o lodo torna o aço mais suscetível à corrosão, possivelmente por uma maior acidez na composição. Na avaliação dos autores, os resultados indicam que o material pode ser usado em estruturas de concreto armado nas áreas urbanas.
“O Brasil, como a maioria dos países onde há tratamento de água, dispõe de ETA [estações de tratamento de água] em todas as suas regiões políticas. Portanto, o lodo de ETA é um resíduo presente em todo o território brasileiro, ao contrário da areia natural”, afirmam.
Além do financiamento concedido ao CDMF – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP – a pesquisa também recebeu apoio da Fundação por meio de um projeto coordenado por Lucia Helena Mascaro Sales, professora do Departamento de Química da UFSCar.
Fonte: Agência FAPESP.
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